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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mecanismos Celulares e Moleculares Envolvidos na Intensidade e Volume Ótimos do Treinamento Resistido sobre a Síntese Protéica



É bem descrito na literatura que o treinamento resistido agudo, estimula a síntese protéica, e que este efeito a longo prazo, induzirá hipertrofia muscular (aumento do diâmetro das fibras musculares e conseqüentemente, do músculo como um todo). No entanto, pouco se sabe sobre a carga ótima de trabalho para induzir estas respostas.
É comumente recomendado que as contrações musculares com elevada sobrecarga ou intensidade (i.e., > 70% de 1RM) sejam realizadas para o ótimo estímulo hipertrófico da musculatura esquelética (Ratamess et al. 2009). Foi demonstrado recentemente que a síntese de proteínas miofibrilares (MIO - proteínas contráteis) estão elevadas com 60% 1RM, no estado pós-absortivo, e que, não existem um aumento adicional na síntese MIO com intensidades maiores (i.e., 70-90% 1RM) de contrações musculares (Kumar et al. 2008). Adicionalmente, realizar contrações musculares com baixa sobrecarga ou intensidade (~20% 1RM) com oclusão vascular é o suficiente para induzir um aumento na mistura de síntese de proteínas (MIX) muscular (Fujita et al. 2007). Neste sentido, os resultados destes estudos começam a indicar que o estresse fisiológico imposto sobre o tecido muscular é o fator determinante da elevação da síntese protéica, e não necessariamente a intensidade (% 1RM) seja o fator determinante.
Recentemente foi demonstrado pela primeira vez que o exercício resistido com baixa sobrecarga e elevado volume (Figura 1) é mais efeito para estimular a síntese protéica do que o exercício resistido com elevada sobrecarga e baixo volume (Burd et al. 2010). O fator principal que parece estar envolvido nesta resposta hipertrófica provavelmente envolve o estresse metabólico imposto ao músculo alvo durante o treinamento. No estudo de Burd et al. (2010), eles demonstraram que indivíduos do grupo que realizam um protocolo de treinamento com 30% de 1RM (30%FAD) até a fadiga tinham uma maior resposta hipertrófica do que os indivíduos do grupo que que realizam o mesmo protocolo, porém com intensidade (com base no peso) muito maior, ou seja, 90% 1RM (90%FAD). Isto ocorreu porque os indivíduos do grupo 30%FAD realizam um maior número de repetições e consequentemente, induziam um maior estresse metabólico no musculo do que os indivíduos que realizavam um menor número de repetições (90%FAD). Para verificar se tal resposta era decorrente do percentual do 1RM ou da sobrecarga (peso) utilizado, eles também verificam a mesma resposta em um grupo de indivíduos que realizavam o mesmo número de repetições do que o grupo de 90%FAD, porém, com 30% de 1RM para equalizar o grupo (grupo 30%EQU). Este último grupo ainda assim nao obteve a mesma resposta que o grupo 30%FAD e o 90%FAD (Burd et al. 2010). Isto é uma indicativa de que não necessariamente é o peso o fator determinante da resposta hipertrófica, mas talvez o estresse metabólico imposto ao músculo.




No entanto, mesmo sabendo estas respostas, é importante verificar também qual é o efeito a nível molecular e celular deste modelo de treinamento sobre as proteínas envolvidas na síntese protéica.
Foi demonstrado que o treinamento com alto volume e moderada intensidade agudamente (4 horas após uma sessão de treinamento) aumenta o estado de ativação (fosforilação) de proteinas conhecidas por estimular a síntese protéica como a ERK1/2 assim como a p70s6k, além de inibir o repressor da estimulação da síntese protéica conhecido como 4E-BP1 (Burd et al. 2010). Além do mais, este tipo de treinamento mantém elevada a síntese protéica tardiamente (24 horas após uma sessão de treinamento). Este efeito é mediado por meio de uma aumentada fosforilação da proteína Akt e 4E-BP1 (Burd et al. 2010). De maneira geral, estas proteinas aumentam a biogênese ribossomal e consequentemente a capacidade de sintetizar proteínas (figura 2).




Os resultados deste estudo são uma forte indicativa de que o treinamento com alto volume e moderada intensidade é o treinamento ideal para estimular a síntese proteica. Estas informações são fundamentais, pois, têm aplicação direta ao meio prático, e adicionam novas informações para os profissionais do exercício e do treinamento, assim como da saúde sobre os mecanismos envolvidos na síntese protéica.



Juliano Machado
Mestre em Fisiologia da Performance (UFPR - 2010)
Especialista em Fisiologia do Exercício (UFPR - 2009)
Especialista em Fisiologia do Exercício (Gama Filho - 2008)
Licenciatura Plena em Educação Física (UNIVILLE - 2006)
Personal Trainer, jumachado17@yahoo.com.br

Referências

Burd NA et al. (2010). Low-load high volume resistance exercise stimulates muscle protein synthesis more than high-load low volume resistance exercise in young men. Plos One.

Fujita S et al. (2007). Blood flow restriction during low-intensity resistance exercise increases S6K1 phosphorylation and muscle protein synthesis. J Appl Physiol.

Kumar V et al. (2008). Age-related differences in dose response of muscle protein synthesis to resistance exercise in young and old men. J Physiol.

Ratamess NA et al. (2009). American College of Sports Medicine position stand. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc.

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