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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Pesos maiores podem gerar músculos maiores? Evidências obtidas à partir de estudos que analisam as respostas agudas sobre a síntese proteica após uma sessão de exercício resistido

Estudos que analisam as respostas agudas após uma sessão de exercício resistido sobre o estado de fosforilação (que em alguns casos são marcadores da ativação de uma proteína) ou síntese proteica, associado com a ingestão proteica, são frequentemente utilizados para predizer as respostas cronicas induzidas pelo exercício. Contudo, realmente existem evidências definitivas que realmente mostram que existe uma associação entre as respostas agudas com os efeitos crônicos, ao menos, considerando as respostas sobre a hipertrofia muscular esquelética?
Sabe-se que, para uma fibra muscular esquelética se hipertrofiar, é necessário acréscimos contínuos de proteínas nas fibras já existentes. Além do mais, sabe-se que o exercício resistido é um estímulo eficaz para aumentar a massa muscular, efeito obtido especialmente pela resposta sobre a síntese proteica (MPS - muscle protein synthesis) (Phillips et al., 1997). Quando acompanhado pela ingestão proteica, a estimulação sobre a MPS é maior do que qualquer outro estímulo biológico isoladamente (Phillips et al., 1997; Tipton et al., 1999; Moore et al., 2009). O resultado final é, um equilíbrio nitrogenado positivo que resultará em hipertrofia muscular após o treinamento crônico com exercícios resistidos (após várias sessões de treinos). 
Para nosso conhecimento, não há nenhum outro mecanismos fisiológico conhecido em que uma fibra muscular esquelética possa se hipertrofiar, após o exercício resistido, sem o acréscimo contínuo de proteínas as fibras musculares pré-existentes. Assim, medidas na síntese proteica apresenta importantes indicações sobre a hipetrofia muscular. Além disso, evidências indiretas sugerem que as medidas agudas de MPS após estímulos anabólicos (Fujita et al, 2007; West et al., 2009; Holm et al., 2010) ou catabólicos (Glover et al., 2008), pode se traduzir em ganho (Takarada et al., 2000; Hartman et al., 2007; West et al., 2009; Holm et al., 2010) ou perda muscular (Yasuda et al., 2005). Portanto, existem evidências científicas que suportam que as respostas agudas sobre a síntese proteica estão associadas com os efeitos a longo prazo sobre a massa muscular esquelética.
O laboratório de um pesquisador da universidade de Ontário, Canadá, tem realizado inúmeros estudos experimentais nos quais tem manipulado várias variáveis do exercício resistido (p.ex.: intensidade, volume, tempo sobre tensão muscular), tem levantado a tese de que a ativação máxima da fibra muscular representa o estímulo primário para maximizar a MPS durante os períodos de recuperação após o exercício resistido (Burd et al., 2012). Os achados deste grupo de pesquisa, têm apontado para um conceito não comumente conhecido. Especificamente, contrações musculares de alta intensidade (treinos com pesos elevados/pesados) não são os únicos condutores da MPS após o exercício resistido. Neste sentido, o objetivo da postagem atual é apresentar algumas evidências que dão suporte a essa nova teoria apresentada por este grupo de pesquisa.

A CONTRAÇÃO MUSCULAR COMO ESTÍMULO QUE CONDUZ A MPS

Existe uma miríade de variáveis do exercício resistido além da intensidade, nos quais podem ser manipuladas para produzir hipertrofia muscular induzida pelo exercício resistido, como, volume, ação muscular, tempo sobre tensão muscular, cadência do levantamento dos pesos, modo de contração muscular, e, intervalo de recuperação entre ps exercícios e entre as séries de exercícios realizados (American College os Sports Medicine 2009). Na verdade, cada uma dessas variáveis têm efeitos independentes sobre o turnover proteico, e assim, sobre a hipertrofia muscular, pois, cada variável induz respostas metabólicas e hormonais distintas nos quais serão transformadas em sinais bioquímicos intracelulares que levarão a estimulação da MPS.
Intensidades de exercícios resistidos de 70-80% de 1 repetição máxima (1RM), o qual na maioria dos casos equivale a 8-12 RM, são protocolos classicamente prescritos para maximizar as respostas sobre a hipertrofia muscular induzida pelo exercício resistido (American College os Sports Medicine 2009). Contudo, o que é tão intrinsicamente único sobre os exercícios realizados com alta intensidade de resistência em termos de promoção da MPS induzida pelo exercício resistido? Provavelmente, isto está relacionado com a existência de uma relação positiva entre o maior desenvolvimento de força com a aumentada atividade eletromiográfica da musculatura esquelética (Alker et al,, 2000). Por conseguinte, resultará em maior recrutamento de fibras musculares em intensidades elevadas, o qual resultará em aumentada síntese proteica, e em última instância, hipertrofia muscular. Kumar et al. (2009), forneceram suporta para a relação dose-resposta entre intensidade externa de trabalho e MPS. Eles demonstraram que a MPS atinge um platô entre intensidades de 60-90% de 1RM. Assim, haveria pouca razão para esperar uma grande diferença sobre a MPS, a menos que a fibra muscular tenha um mecanismo altamente sensível para detectar uma diferença entre 60-90% de 1 RM, um conceito que parece, pelo menos de acordo com os dados disponíveis altamente improvável. 
É geralmente aceito que as unidades motoras (unidade motora é um neurônio motor e todas as fibras inervadas por ele) são recrutadas de acordo com o princípio do tamanho durante a contração muscular voluntária (Henneman et al., 1965). Neste contexto, parece razoável supor que intensidades mais baixas, realizadas até a fadiga voluntária, possa atingir um grau semelhante de ativação das fibras musculares semelhante a ativação obtida durante a realização de exercícios de alta intensidade realizados até a falha concêntrica. Se isto é verdade, tal modo de ativação, treinamento de baixa intensidade até a falha máxima, presumivelmente resultaria em similar resposta sobre a MPS durante a recuperação (Figura 1).



O laboratório de Burd et al., recentemente testou a tese de que, treinamentos resistidos tanto de alta como de baixa intensidades, realizados até a falha máxima, resulta em máxima ativação das fibras musculares e similar estímulo para MPS. Foi demonstrado que homens jovens treinados, ao realizarem um protocolo de treinamento de baixa intensidade (30% 1RM) e elevado volume (24 ± 3 repetições) até a fadiga voluntária, era igualmente efetivo em estimular a síntese de proteínas musculares durante 0-4h de período de recuperação, quando comparados ao protocolo de alta intensidade (90% 1RM) e baixo volume (5 ± 1 repetições) de exercício resistido. Interessantemente, exercício realizado com 30% 1RM induziu uma resposta mais duradoura sobre a MPS, que se estendeu por 21-24h durante a recuperação do exercício resistido (Burd et al., 2010b). Esta observação, demonstra que a elevação da síntese de proteína miofibrilar depois de um exercício de baixa intensidade, corrobora com os dados que demonstram que o volume do exercício é o fator integral para sustentar a síntese proteica durante a recuperação (Burd et al., 2010a). Sendo assim, os autores comprovam a tese e levantam um novo conceito de que o treinamento com baixa intensidade resulta em similar aumento de massa muscular quando comparado ao treinamento de alta intensidade!

E VOCÊ LEITOR, CONCORDA COM ESTES RESULTADOS?

Se estas respostas se aplicam para diferentes grupos populacionais com diferentes níveis de treinamento, é algo ainda a se testar. Muitos dos efeitos foram testados em indivíduos jovens treinados, o que não se aplicaria em todas as populações. Contudo, vale lembrar que diversos estudos realizados com baixa intensidade de treinamento e elevado volume com oclusão vascular em adultos jovens, treinados ou não, assim como em  idosos, produzem similar respostas sobre a síntese proteica quando comparados aos regimes de treinamento de alta intensidade e baixo volume sem oclusão vascular. Isto novamente dá suporte a teoria levantada pelo grupo de Burd et al., de que, a ativação máxima da fibra muscular representa o estímulo primário para maximizar a MPS durante os períodos de recuperação após o exercício resistido (Burd et al., 2012).

Juliano Machado
Doutorando em Fisiologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP (2011); Mestre em Fisiologia da Performance (UFPR - 2010); Especialista em Fisiologia do Exercício (UFPR - 2009);Especialista em Fisiologia do Exercício (Gama Filho - 2008); Licenciatura Plena em Educação Física (UNIVILLE - 2006).


Journal Reference:
  1. Nicholas A. Burd, Cameron J. Mitchell, Tyler A. Churchward-Venne, Stuart M. Phillips. Bigger weights may not beget bigger muscles: evidence from acute muscle protein synthetic responses after resistance exerciseApplied Physiology, Nutrition, and Metabolism, 2012 DOI: 10.1139/h2012-022



8 comentários:

  1. Bom Post Juliano, estes estudos comprovam que a variabilidade é um fator de extrema importância para o ganho de massa muscular e que os fatores nutricionais são tão importantes quanto o exercício. Grande Abraço, Paulo A.

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    1. então a tese de que andar é bom qto correr uma mini maratona está correta

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  2. Mas o trabalho final nao será o mesmo. Visto que trabalho = massa x aceleraçao. Considerando uma aceleraçao máxima a massa é a variável aqui. Nesses estudos infelizmente nao há pareamente quanto ao viés de trabalho total.
    Realmente nao acho que cargas leves e altas repetiçoes levem a máximo estímulo de hipertrofia.
    Pegue como exemplo um corredor de maratonas contra um corretor de 30metros..

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    1. Bernardo, Trabalho = Vetor de Força X Deslocamento.
      Massa X Aceleração é igual a Velocidade. O que não se aplica aqui.

      O exemplo do corredor também, creio eu, estar equivocado pois o tópico trata de exercício resistido quantificado a partir de 1RM, um padrão que não é utilizado para corrida.

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    2. Bernardo Noronha, você está utilizando uma imagem que é marca registrada e não está autorizado para isso..

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Bernardo Noronha, você está utilizando uma imagem de propriedade do Maragatos Moto Grupo indevidamente e sem autorização.

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  4. A questão é que o conceito de intensidade para o artigo (e para ciência em geral) é diferente do conceito de intensidade que conhecemos (falha concêntrica com perfeita execução e tensão em toda amplitude). Assim sendo, considerando a segunda definição, posso sim ter alta intensidade com baixo peso e altas repetições. Ocorre que é mais difícil de aferir a alta intensidade a menos de 60%RM pelo simples fato de que é mais difícil chegar na falha concêntrica com altas repetições. Da mesma forma, um maratonista dificilmente imprime alta intensidade pois sempre pode dar um pouco mais ao final da maratona. Ao contrário de Bolt que consegue correr naquela velocidade e tempo apenas os 100m e nem mais um centrímetro.

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