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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Efeitos do Destreinamento sobre os Fatores Centrais e Periféricos em Atletas de Endurance

O desenvolvimento de um pico de “performance”, característico em atletas de competição, depende das adaptações resultantes de vários anos de treinamento físico. Adaptações como o aumento do volume sistólico, o aumento do débito cardíaco máximo, o aumento do metabolismo oxidativo do músculo esquelético e o aumento do consumo máximo de oxigênio possibilitam um melhor fornecimento e utilização de oxigênio e de substratos energéticos durante o exercício físico, aumentando a capacidade do atleta em resistir ao esforço físico por uma intensidade e duração maiores (para revisão, veja Evangelista & Brum 1999).
Inerente aos benefícios adquiridos com o treinamento físico é o conceito da reversibilidade, o qual mostra que quando o treinamento físico é suspenso ou reduzido, os sistemas corporais se reajustam de acordo com a diminuição do estímulo. Desta forma, o destreinamento físico resulta em perda das adaptações cardiovasculares e metabólicas adquiridas com o treinamento físico de “endurance”, provocando um prejuízo da “performance” do atleta em esportes de longa duração ao diminuir a capacidade de sustentar um exercício físico por um tempo mais prolongado com uma maior intensidade (Evangelista & Brum 1999). Os efeitos do destreinamento físico podem ocorrer em situações nas quais o atleta é afastado do treinamento por causa de lesão ou mesmo férias, ou quando o atleta entra na fase de transição do ciclo de treinamento físico (Evangelista & Brum 1999). Nestes casos, os treinadores devem ter maior cuidado para que a inatividade temporária, a qual os atletas estarão submetidos, não implique em prejuízos no desempenho físico do atleta.
O destreinamento físico acarreta em perda das adaptações do sistema cardiovascular (centrais) e metabólicas do músculo esquelético (periféricas) adquiridas com o treinamento físico aeróbio, resultando na diminuição do VO2máx (Evangelista & Brum 1999). Os efeitos do destreinamento sobre as adaptações centrais adquiridas com o treinamento físico estão diretamente relacionados ao débito cardíaco, o qual sofre modificações em função da readaptação da freqüência cardíaca (FC) e do volume sistólico (Evangelista & Brum 1999). Indivíduos destreinados apresentam menores FC em esforço quando comparados aos indivíduos treinados. O destreinamento acarreta uma significativa redução no débito cardíaco, o qual é resultante de uma diminuição de 28% do volume sistólico e um leve aumento da FC de 170 para 180 bpm (Evangelista & Brum 1999).
Coyle et al. (1984) demonstraram num elegante estudo com atletas de “endurance” altamente treinados, os efeitos fisiológicos do destreinamento físico durante um período de 12 a 84 dias (TABELA 1). O volume sistólico durante exercício máximo diminuiu cerca de 11% após 21 dias de destreinamento físico e, após 56 dias, permaneceu estabilizado 14% abaixo dos valores atingidos após o treinamento físico. Em relação à freqüência cardíaca máxima, a maioria das mudanças ocorreu durante os primeiros dias de destreinamento físico, aumentando significativamente em 4, 5, 6 e 5% após 12, 21, 56, e 84 dias de inatividade, respectivamente (Coyle et al. 1984). Durante 21 a 84 dias de inatividade, houve uma redução do débito cardíaco máximo por volta de 8-9% dos valores iniciais (Coyle et al. 1984). Em outro estudo com corredores de elite submetidos à três semanas de inatividade física, foi demonstrado através de ecocardiografia, um declínio da dimensão diastólica final no ventrículo esquerdo de 51 para 46,3 mm e redução da espessura da parede do miocárdio de 10,7 para 8 mm (Ehsani et al. 1978). Além disso, atletas submetidos ao destreinamento físico de duas a quatro semanas apresentaram uma diminuição significativa do volume sangüíneo quando realizaram um exercício físico na posição vertical (para revisão, veja Evangelista & Brum 1999).


Somando-se aos efeitos do destreinamento físico sobre o débito cardíaco, as readaptações periféricas (músculo esquelético) que controlam a diferença artério-venosa de oxigênio (diferença entre oferta e consumo de oxigênio), também podem contribuir para a redução do consumo máximo de oxigênio após a inatividade física (Convertino, 1997). Já os efeitos do destreinamento sobre a capilarização músculo esquelética são bastante controversos, com estudos demonstrando uma redução na capilarização após o destreinamento de aproximadamente duas semanas, porém, também existem estudos demonstrando nenhuma redução neste parâmetro (Evangelista & Brum 1999).
Os efeitos do destreinamento físico são bastante evidentes quando se leva em consideração a atividade máxima de enzimas oxidativas (para revisão, veja Evangelista & Brum 1999). No entanto, apesar do declínio da atividade das enzimas ao longo dos dias de destreinamento físico, os valores finais ainda foram superiores aos valores pré-treinamento, como mostra a TABELA 2. A perda das adaptações cardiovasculares e metabólica musculares resultam na redução do VO2max após um período de duas a quatro semanas de inatividade física tanto durante o exercício submáximo (Convertino et al. 1982; Coyle et al. 1984) como durante exercício máximo (para revisão, veja Evangelista & Brum 1999).


Diante das dos estudo citados anteriormente, pode-se concluir que a queda inicial do VO2max está associada à redução do débito cardíaco conseqüente da redução do volume sistólico, já que a freqüência cardíaca permanece praticamente inalterada. O destreinamento físico também provoca alterações das adaptações do músculo esquelético que resultam em uma redução significante da diferença artério-venosa máxima de oxigênio contribuindo também para a redução do VO2max. Se a condição física elevada de um atleta pode ser obtida após alguns anos seguidos de treinamento físico efetivo, professores de educação física, preparadores físicos e técnicos devem estar atentos para que possíveis eventualidades que impeçam a continuidade da preparação física do atleta não resultem em prejuízos tão significativos na sua “performance”.

Juliano Machado
Mestre em Fisiologia da Performance (UFPR - 2010)
Especialista em Fisiologia do Exercício (UFPR - 2009)
Especialista em Fisiologia do Exercício (Gama Filho - 2008)
Licenciatura Plena em Educação Física (UNIVILLE - 2006)
Personal Trainer, jumachado17@yahoo.com.br

Referências

Coyle EF et al. Time course of loss of adaptations after stopping prolonged intense endurance training. J Appl Physiol Respirt Environ Exercise Physiol 57: 1857-1864,1984.

Ehsani AJ et al. Rapid changes in left ventricular dimensions and mass in response to physical conditioning and deconditioning. Am J Cardiol 42:52-56, 1978.

Convertino VA. Cardiovascular consequences of bed rest: effect on maximal oxygen uptake. Med Sci Sports Exerc 29: 191-196, 1997.

Convertino VA et al. Induced venous pooling and cardiorespiratory responses to exercise after bed rest. J Apll Physiol 52: 1343-1348, 1982.





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