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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

TENDINOPATIA CRÔNICA, MECANISMOS DE DOR E INFLAMAÇÃO TECIDUAL EM PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO: COMO EVITAR OU ATENUAR TAL SITUAÇÃO?



Uma situação muito comum vista no dia a dia, é que existe muita gente praticando atividade física ou exercício físico em parques, clubes, campos, pistas, ruas, academias, etc. Muitos são praticantes de final de semana ou de temporada que visam recuperar o tempo perdido, outros são atletas recreacionais, atletas de nível local, regional, nacional ou internacional. De um modo geral, a prática de exercício físico de leve a moderada é benéfica para a saúde, quando realizada de forma programada, sistemática e orientada, porém muitos dos praticantes de finais de semana, de temporada, recreacionais ou de elite não se exercitam numa intensidade leve a moderada, bem pelo contrário, eles se exercitam sempre no limite da exaustão. Não é o objetivo desta revisão, discutir os efeitos da prática de exercícios leve, moderado e intenso, porém não se deve esquecer que a realização de uma modalidade qualquer de maneira intensa pode predispor o indivíduo a alguma situação desagradável.

A dor crônica nos tendões de Achilles (ou calcâneo) e patelar é algo muito comum. Na população geral, o tempo de vida cumulativo de incidências de tendinopatia é de 5,9% entre indivíduos sedentários e 50% entre os atletas de endurance (KUJALA, e colaboradores, 2005), ou seja, aqueles atletas que realizam provas que exigem resistência por um período de tempo prolongado. Além do mais, existem estudos mostrando que a prevalência total de tendinopatia patelar na população atlética específica oscila de 7 a 40% (KUJALA, e colaboradores, 1986; LIAN, e colaboradores, 2005).

A visão tradicional da tendinopatia é uma injuria no tendão associado com “overuse” (uso extremo) da carga mecânica repetitiva, micro-lesões, e fases agudas e crônicas da inflamação que leva à degeneração do tendão, o que é comumente vista em atletas de elite, apesar de que estas situações também ocorrem em indivíduos inativos (ALFREDSON & LERENTON, 2000). Neste sentido, todos os níveis de atletas assim como a população não atleta deveriam prestar atenção em sinais básicos presente nestas estruturas, como a dor, visto tanto durante o esforço físico como em repouso.

No momento, a teoria do estresse mecânico é a mais aceita para explicar os mecanismos de lesão das injurias do tendão sobrecarregado (Fredberg & Stengaard-Pedersen, 2008). A sobrecarga repetitiva e intensa pode produzir mudanças patológicas iniciais tanto na matriz extracelular quanto nas células que constituem o tendão (Fredberg & Stengaard-Pedersen, 2008). Quando a sobrecarga excede a força do tendão (resistência), lesões progressivas podem causar micro e macroscópica rupturas pelo estresse repetitivo (Fredberg & Stengaard-Pedersen, 2008).

A sobrecarga extrema no esforço físico tem um papel altamente decisivo na tendinopatia porque a incidência dessa patologia é aproximadamente 10 vezes maior entre atletas de endurance de elite do que entre pessoas sedentárias (KUJALA, e colaboradores, 2005). Além, do mais, algumas pessoas apresentam predisposição genética no desenvolvimento de tendinopatias (MOKONE, e colaboradores, 2005), o que talvez explique porque alguns indivíduos não seguem a carreira esportiva seja recreacional ou profissional.

É bastante plausível que os tendões tenham uma força mecânica residual, o qual depende da história de sobrecarga do tendão, ou seja, do nível de treinamento individual (Fredberg & Stengaard-Pedersen, 2008). Uma vez que ocorra um rápido aumento na carga de treinamento, na freqüência ou na duração, os tendões podem não ser capazes de se adaptar rápido o suficiente a estas mudanças (Fredberg & Stengaard-Pedersen, 2008). Sobre circunstâncias, nas quais o treinamento ou o esforço físico respeitam o tempo de estímulo e recuperação, uma pequena injuria irá cicatrizar como parte normal do remodelamento do tendão, mas se o treinamento ou até mesmo o esforço físico forem extremamente demasiados, estas pequenas micro-lesões resultam em progressivas mudanças no tendão, pois este não terá tempo suficiente para recuperar-se (Fredberg & Stengaard-Pedersen, 2008). Assim, as lesões gradativamente se agravam de um nível assintomático para um nível sintomático, quando o indivíduo já começa sentir dores (figura 1).


Diante de todas as colocações citadas acima, é possível verificar que esta situação patológica é extremamente complexa, e a evolução de um quadro assintomático para sintomático depende de muitos fatores, especialmente que se leva em consideração a sobrecarga repetitiva e intensa, porém, muitas situações podem ser atenuadas com uma orientação de um profissional qualificado e especialista. Quando o quadro sintomático ocorre, o indivíduo deve consultar um médico ortopedista especialista, para obter informações sobre o quadro clínico e conseqüentemente uma melhora progressiva.


Juliano Machado
Mestre em Fisiologia da Performance (UFPR - 2010)
Especialista em Fisiologia do Exercício (UFPR - 2009)
Especialista em Fisiologia do Exercício (Gama Filho - 2008)
Licenciatura Plena em Educação Física (UNIVILLE - 2006)
Personal Trainer, jumachado17@yahoo.com.br


REFERENCIAS

Alfredson H, Lorentzon R. Chronic Achilles tendinosis: recommendations for treatment and prevention. Sports Med 2000: 29: 135–146.

Fredberg U, Stengaard-Pedersen K. Chronic tendinopathy tissue pathology, pain mechanisms, and etiology with a special focus on inflammation. Scand J Med Sci Sports 2008: 18: 3–15.

Lian O, Engebretsen L, Bahr R. Prevalence of jumper’s knee among elite athletes from different sports: a cross-sectional study. Am J Sports Med 2005: 33: 561–567.

Kujala UM, Kvist M, Osterman K. Knee injuries in athletes. Review of exertion injuries and retrospective study of outpatient sports clinic material. Sports Med 1986: 3: 447–460.

Kujala UM, Sarna S, Kaprio J. Cumulative incidence of Achilles tendon rupture and tendinopathy in male former elite athletes. Clin J Sport Med 2005: 15: 133–135.

Mokone GG, Gajjar M, September AV, Schwellnus MP, Greenberg J, Noakes TD, Collins M. The guanine– hymine dinucleotide repeat polymorphism within the tenascin-c gene is associated with Achilles tendon injuries. Am Orthop Soc Sports Med 2005: 33: 1016–1021.

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